Dos peixes do tipo tilápia criados em tanques-cativeiros no Açude Castanhão produz-se o filé, linguiça e bolinhas de peixe. O sabor é apreciado nos restaurantes do Vale do Jaguaribe e já chega a outras cidades do Ceará. Mas de tudo que se produzia, a última parte, o couro, virava lixo, quilos de resíduos despejados anualmente de toneladas de peixe. O couro é totalmente aproveitado e vira arte nas mãos de mulheres agricultoras e donas de casa, que dão cores e brilho, literalmente, à matéria rústica do peixe.

Na Associação dos Produtores e Processadores de Peixes de Jaguaribara e
Lages (Aplages), depois que o pescado chega à equipe de processadores do
filé, o que sobra vira elemento principal para o grupo de 36 mulheres
que faz peças artesanais com o couro da tilápia. Bolsas, sandálias,
cintos, chaveiros, portarretrato, cadernos, álbuns de fotografia,
carteiras e portas moedas são feitos de couro de peixe. A atividade é
recente, mas já tem feito a diferença na vida de artesãs como dona Maria
Helena, agricultora de milho e feijão: “ainda não dá pra viver disso,
mas a gente acredita que pode crescer”.
Da Aplages faz parte o Grupo Kardume de Artesanato, que reúne quem faz
somente o beneficiamento com couro. A associação tem o apoio do Sebrae,
na capacitação tanto para processamento da carne como produção de peças
de couro. Na internet é possível, não comprar, conferir os produtos que
são feitos e fazer contato com artesãs como Maria Helena ou Cilbene da
Conceição. Elas fazem “todo tipo de peça”. A associação produz uma média
de 15 bolsas por mês, depende dos pedidos da clientela, que pode ser
“daqui, como de fora, gente que acaba revendendo”, diz Helena. Mas as
profissionais que suam entre a luta em casa, na plantação e na produção
artesanal, não querem saber de atravessadores, pessoas que compram a
preços baixíssimos o produto e revendem a “preço de ouro”, explorando o
trabalho alheio e desvalorizando a atividade local.
Os objetos podem variar de R$ 3,00 (um chaveiro em forma de borboleta) a
R$ 85,00 (uma bolsa feminina). Na feira livre de Jaguaribara e
municípios vizinhos, artesanato com o couro da tilápia tem “mesinha”
certa no comércio popular. Outro ponto de amostragem são os encontros de
negócios. O mais recente foi a Feira de Negócios da Região Jaguaribana
(Fenerj), em Limoeiro do Norte, em agosto. Lá as artesãs puderam vender
várias peças, principalmente, os acessórios femininos.
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